sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

ENTREVISTA: Laís Pontes


É com muita alegria que abriremos este ano de 2012, após uma longa pausa na seção de entrevistas, com a artista visual Laís Pontes. Laís é natural de Fortaleza, porém atualmente estuda e trabalha em Nova York. Conhecemos a artista no Festival Internacional Paraty em Foco 2011, ela estava expondo o trabalho “Born Nowhere”, o qual falaremos um pouco no decorrer da entrevista, no mais, boa leitura!!


Who is she?
1. Fale-nos um pouco de você, quem é Laís Pontes?

Eu me considero alguém que continua se conhecendo a cada dia através da arte. Acredito nas coisas simples e naturais. Talvez eu seja um pouco introvertida. Acho que vale a pena tentar, não gosto de pensar “ah, se eu tivesse feito isso”. Preciso estar constantemente trabalhando. Sou bastante perfeccionista.


2. Sua formação artística foi em fotografia ou vens de outra área? Como se deu esse processo?
Sou formada em Administração pela Universidade de Fortaleza – Unifor e trabalhei durante 10 anos como empresaria, porém a fotografia sempre fez parte da minha vida. No inicio buscava tirar férias para fotografar, era o momento que encontrava paz e entendia melhor os meus sentimentos. Depois senti necessidade de aprofundar os meus conhecimentos. Então iniciei o curso de Belas Artes na Unifor. Mesmo aprendendo bastante durante este período, eu sabia que precisava me dedicar totalmente, abandonei a minha carreira como empresaria e mudei para Nova Iorque para estudar no International Center of Photography.


3. Você mora atualmente em Nova York, inicialmente, você foi a estudo, trabalho, como foi essa mudança pra N.Y ?

Laís Pontes_Kate, 25 years old.

Mudei para Nova Iorque em 2010 para estudar no ICP. Considero que neste período tive a minha primeira e verdadeira experiência como artista. A mudança não foi fácil, não somente por estar numa cidade totalmente diferente, mas também por ter abandonado todos os meus antigos conceitos e mergulhado numa nova vida.


4. Como é para você essa ampliação que a linguagem fotográfica recebeu atualmente?
Fantástica e libertadora.


5. Conhecemos sua produção recentemente através de um trabalho seu chamado “Born Nowhere” https://www.facebook.com/Project.Born.Nowhere?sk=info poderias falar um pouco a respeito dele?
Born Nowhere surgiu exatamente neste momento de transição intensa. O projeto é o resultado dos meus conflitos durante o período de estudos no ICP. Estar numa cidade super energética onde ninguém tem tempo para nada, inclusive para conhecer o outro melhor, faz com que o julgamento superficial seja a solução mais viável. Conviver com pessoas do mundo todo, também me ajudou a entender os diferentes tipos de interpretação.
O projeto propõe uma "brincadeira" saudável onde utiliza a mídia social como ferramenta de divulgação.
Através de técnicas digitais, expressões faciais, iluminação, adereços e maquiagem, crio novos personagens “em branco” a partir da minha própria imagem. Estas imagens são então publicadas no Facebook, sem qualquer informação adicional, para que sejam interpretadas e descritas por outras pessoas. Com base nas diversas descrições recebidas, incluindo nomes sugeridos, status social e personalidade, nasce um novo personagem para o projeto. As características dos personagens que nascem neste processo são formadas pelo mecanismo que a psicanálise chama de “projeção”, que é a atribuição, a outro indivíduo, das experiências, realidades e fantasias de cada um.

Laís Pontes

6. Esse convite pra que o observador projete sua leitura de quem deva ser aquela personagem nasceu a partir da idéia de tornar o trabalho algo participativo?
Com certeza. Sempre quis produzir algo inédito, porém simples e acessível. Queria algo que as outras pessoas se relacionassem e tivessem oportunidade de interagir. No caso do Born Nowhere os comentários são tão importantes quanto a imagem, ou até mais importante do que estas.
Acredito em arte simples, acredito em arte que atrai diversos tipos de pessoas para o movimento artístico, independendo do background. É como plantar a semente do interesse. De uma formal natural fazemos com que a arte seja expandida e futuramente aprofundada.


7. As interações com o trabalho na internet tem de ser filtradas para poderem acompanhar as fotos na exposição, qual o critério que você usa para escolher quais comentários vão dar personalidade aquela personagem?
Existem duas formas escritas de apresentação do projeto atualmente. A primeira consiste em uma seleção de 1 a 8 comentários por imagem, impressos e expostos, ao lado das suas respectivas imagens. Isso possibilita a compreensão do projeto em forma de exibição impressa. Os comentários são escolhidos de acordo com dinâmica de interpretação que cada personagem recebe. Tento mostrar que existe contradição de idéias, influências e projeções. Há casos que escolho somente um comentário super detalhado para mostrar a complexidade de pensamento.
A segunda forma escrita de apresentação é quando faço um pequeno resumo dos comentários criando uma personalidade para cada imagem. É nesta etapa que os meus sentimentos são influenciados pelos julgamentos das outras pessoas. Quando crio um personagem tenho a minha motivação, mas as interpretações recebidas raramente correspondem aos meus sentimentos. À medida que vou lendo os comentários e reavaliando a fotografia, vou criando uma nova imagem dentro de mim. É quando algumas teorias da personalidade falam que cada indivíduo sofre influência de três fatores: quem ele é, como ele se vê e como os outros o vêem.

Laís Pontes_Amber, 32 years old.

8. Como é o processo de produção das personagens: maquiagens, cabelo, roupas, fale-nos a respeito.
Penso em quem eu quero interpretar. Faço uma pesquisa de como essa pessoa age, se veste e se comunica. Então vejo o que eu já tenho, o que posso improvisar e o que tenho que comprar. Como existe um processo de performance, antes de fotografar levo algum tempo agindo como acredito que esta pessoa agiria.
Trabalho sozinha no figurino, maquiagem, iluminação e a fotografia em si. Depois levo a imagem ao Photoshop e finalizo a interpretação do personagem. Esta última etapa leva de 7 a 10 horas.


9. O que pesa mais nesse processo: a aparência física da personagem ou a personalidade que ela exala ou instiga?
Depende de cada um. Como o projeto é aberto a interpretações, cada um reage de forma diferente. Algumas pessoas analisam os assessórios e maquiagem, enquanto outras, a atitude do personagem através da linguagem corporal.
Acredito que as duas formas de interpretar são complementares.


10. Você pode nos dar uma idéia aproximada de como é o circuito de Artes em Nova York?
Nova Iorque é considerada a capital da arte atualmente. Parece que tudo passa por aqui. Viver em NY é se sentir fazendo parte de um movimento artístico que acabou de surgir.
A arte faz parte do cotidiano das pessoas, não é somente em galerias e museus que vivenciamos experiências artísticas. É como respirar inspirações vinte e quatro horas por dia.

Laís Pontes_Claudia, 28 years old.

11. Atualmente quais são suas metas na Big Aple, algum projeto novo?
Continuo trabalhando no projeto Born Nowhere intensamente, mas no próximo ano quero abrir caminho para algo novo como também pretendo iniciar um mestrado.


12. Deixe algum comentário, divulgue algo, esse espaço é seu.
Acredito inteiramente na arte interativa e o que me deixa mais feliz é ver como o conceito do Born Nowhere tem atraído interesses e está se expandido. Para mim, a melhor parte é quando começo a receber os comentários e interagir com pessoas de pensamentos tão diversos. Sem os comentários o projeto não teria a importância que está tendo.

Links:
http://www.laispontes.com/
http://www.facebook.com/Project.Born.Nowhere
https://twitter.com/#!/BornNowhere
http://bornnowhere.tumblr.com/
http://web.stagram.com/n/laispontes/

2 comentários:

Roberta Gomes disse...

Muito orgulhosa do seu trabalho e tb da sua coragem de abraçar a causa do que realmente "quer ser quando crescer".Parabéns!!!

Gabriela Pessôa disse...

Excelente entrevista! Orgulho dos brasileiros que estão despontando lá fora! Uma artista com uma visão super atual da arte.